quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Motorista

E é com uma alegria imensa que há pouco mais de 2 meses que passei a contribuir ainda mais com a degradação de nosso planeta e a complicação do trânsito de nossa amada Sp. É o meu lindo carro agora que disputa espaço com tantos outros e acrescenta 3,70m no índice de lentidão na cidade.

Até então eu não entendia o porque da agressividade das pessoas no trânsito. Apesar de não sofrer mais tanto com as ladeiras com pára-anda, ou ter parado de suar frio ao sair da garagem, outro dia cheguei chorando. Foram quase duas batidas de frente, um cara colado na minha traseira na saída da Dutra, uma fechada na Marginal, 1h parada da Tiradentes vendo os espertos cortando por onde não deviam que depois desafiavam a minha finda paciência querendo entrar no túnel na minha frente. O mané sem luz de freio, o xingamento retalhador por não deixar o esperto passar e a polícia tentando loucamente passar por cima de mim no tunel da Nove que tem só duas faixas onde uma tinha eu e outra um ôoooooooooooooonibus. Aí não deu, chorei.
E me vejo brava com os pedestres que se atiram na frente do meu carro sem questionar, ou irritada com os mais lerdos do que eu. Sou lerda mas tenho medo de radar. Cronometro meus percursos mas ainda furo poucos sinais vermelhos. E aos poucos me transformo eu mais uma folgada na cidade; minha "anorexia do carro" está passando e cada vez mais passo em lugares mais estreitos.
Fiz novos amigos imaginários. Viciei na Sulamericatrânsito. Não saio de carro sem eles. Apesar de ir pro centro preciso sempre saber como está a marginal. Necessidade de controle. Acho muito interessante ouvir no Rádio como está a rua de casa, a da faculdade, aprendo nomes de pontes, caminhos alternativos e eles me fazem companhia sem palpitar em como eu dirijo. Outro dia ouvi um deles lá falando da motorista que não ojhava no retrovisor. Pensei que puesse ser eu mas no dia anterior eu não havia - graças a Deus - passado pela Av. Brasil. E passei a olhar mais.

De carro Sp é um "Age of Empires" que se desvela para mim.

Rio de Janeiro

São só letras de música, poesias... Só a opinião recorrente de um conjunto de pessoas que eu desconheço. Só um ditado, um chavão... Afinal, porque as pessoas gostam tanto do Rio de Janeiro?

Sou paulista. Paulistana. Cresci aqui, cidade grande que não se orienta por praia. Conseguir andar aqui é uma vitória, já que a cidade é imensa e cheia de incoerências. Não é NYC que pelo que me disseram é quadradinha e tem ruas numeradas em seqüencia. Pois bem, moro na Manhattan brasileira e gosto muito daqui. Só que dois anos atrás descobri que gosto um pouco menos do que achava. Precisei fugir pra Bahia pra ver que o jeito paulista de viver me afunda em uma ambiguidade terrível: ou estou 100% do meu tempo ocupada portanto realizada e cansada e podre ou curto algum ócio coberto de culpa por perder tempo e sensação de fracasso acompanhada por seriados divertidos na TVacabo. Pois bem...

Fui ao Rio pra estudar. Uma semaninha, só.
Agora eu poderia - aliás adoraria - fazer uma crítica sobre o curso que fiz, as pessoas, a mentalidade, as minhas expectativas e prolongar isso para a situação musical de Sp, mas não é onde quero chegar neste post. Se eu fizer tudo isso ponho um link aqui.

Conheci pessoas. Aqui em Sp faz tempo que não conheço pessoas, só relações. Ou emprego, ou interesse, ou preconceito. Lá foi gente sem expectativa e isso garantiu uma beleza ingênua na criação de novas amizades. (outro post potencial)

O Rio tem um ritmo mais humano. E faz carinho nas retinas a cada levantada de cabeça. A natureza é tão impositiva na cidade que não da pra esquecer que somos pessoas e não máquinas. A cidade acompanha: calçadão, ciclovia e mesmo fora da praia. Há pistas de corrida, placas de como alongar-se, quadras, espaços, parques e praças... Há uma atenção por qualidade de vida o que se reflete não só por esses estímulos ao corpo e também pela quantidade de propagandas de shows, peças de teatro, concertos, óperas... Na semana que fui tinha banner da Bohème no metrô. Alíás, toca musica nas estações. Saindo da Cinelândia ouvia rapidamente gravações interessantes de orquestras tornando esse repertório parte da vida de todos e não só do CD player do seu carro erudito.
Coisas me irritaram sim, claro. A farmácia por exemplo. Como uma drogaria 24h pode ser facilmente confundida com uma unidade anti-bombas da guerra do Iraque. A porta blindada, um interfone e um "passa-pizza"´pra realizar as transações. Só que cartão não aceita, não depois da meia-noite. Caaaaaaaaaaos.
Encontrei pessoas muito bacanas: o moço que me ajudou a achar meu albergue enquanto eu estava perdida com a mochila nas costas andando por Copa feito uma retardada e que morou na Espanha e sabe o valor de uma informação bem dada; o outro que jantei junto naquela lanchonete BIG sei-lá-o-que que tem em todas as esquinas de Copa, que foi muito gentil e me acompanhou até a minha rua, o Alê do albergue que deu uma força quando a minha acabou e eu precisava de remédio. O cara do taxi também, que me aguentou chorando e foi super fofinho...

Sim, eu moraria lá, até aceita meu convênio.
Mas apesar da loucura daqui, gosto e muito da Raia 24h aqui da esquina que vende remédios, maquiagem, xampu a qualquer hora, tem uma porta de vidro gigantesca que abre sozinha. Aceita todos os cartões.