quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Gastronomia, veganos e hipocrisia

Lendo a folha hoje, 27.11.2013, no caderno "Comida", me deparo com uma reportagem sobre veganismo que me deixou chocada. 


http://app.folha.com/compartilhe/noticia/341756

Fiquei tão chocada que resolvi ressuscitar meu blog. 

Como um grande apreciador da culinária, um crítico de comida deve ter poucas restrições alimentares. Para gostar e explorar esse universo é preciso estar aberto, deixar o preconceito, viver o risco e se acostumar com diferenças e novidades, se manter disponível. 
Eu entendo isso. 
Hoje li uma crítica do Josimar Melo na Folha sobre veganismo, experiência realizada por ele por uma semana. O resultado: um texto de saúde.
Eu não sou vegana. Me tornei vegetariana recentemente, há cerca de 4 meses. Não sou radical, separo a carne do feijão e mando ver na feijoada! Sem problemas. Parei por ideologia, sempre curti uma picanha com gordurinha, amo pato, já comi coelho, avestruz, jacaré, codorna além dos tradicionais e adoro tudo! Ou adorava. 
No começo eu pensava na picanha, eu sentia falta da picanha. Levou uns 3 meses para passar a vontade, para meu paladar se adaptar. Um dia furei e pedi um hambúrguer e não era mais tão bom quanto costumava ser! Pelo contrário, foi ruim. Uma semana é um tempo muito curto para se sentir qualquer coisa sobre uma dieta. Claro que se você está habituado a consumir certas coisas, vai sentir falta da rotina, do paladar e uma semana não desmonta esse mecanismo. Não da pra sentir falta de vitamina B12 em uma semana ou ficar desnutrido.
Como diz Josimar em seu artigo, somos onívoros, o que nos confere a capacidade de tirar energia e nutrientes de praticamente tudo. Isso não quer dizer que precisamos de tudo para ter energia. Dizer que é intuitivamente natural comer arroz, feijão, salada e bife é a prova que somos seres adaptáveis à oferta do nosso meio e moldados pela nossa cultura. Ou come-se isso no mundo todo? 
A ciência é bem controversa no que diz respeito a nutrição e alimentação. Um dia ovo é perigoso, no outro liberam porque faz bem. Leite: amigo ou vilão? Carne de soja: quem disse que faz bem? E por aí vai. O bom senso prevalece, e vamos indo. Claro que com uma dieta mais restrita devemos ter mais atenção com o equilíbrio, mas dieta restrita é tanto o vegano quanto alguém que só come carne sem legumes e verduras. 
Ter uma escolha alimentar por ideologia parece um capricho. Se você disser que tem alergia ou intolerância tudo bem, mas como assim você pode comer mas não come? Mais uma: tudo bem dieta para a aparência, mas dieta para não compactuar com o que você não concorda é exagero?
Para fechar, reduzir a experiência do veganismo a uma semana de restrições alimentares, e não ao universo que se abre de novos sabores e sensações, sem levar em conta a alteração do paladar e da percepção a médio prazo, as opções ideológicas que também constituem em prazer à mesa e colocar a desculpa/culpa na saúde, na necessidade biológica do corpo, é uma indisponibilidade mental. É o mesmo que desconhecendo o futebol, treinar uma semana, ficar estafado, e concluir que é perigoso, cansa, pode machucar o joelho e que portanto o esporte é horrível. Além do mais, todos os seres que comem de tudo estão plenamente saudáveis, esbeltos, vendendo saúde, certo? Porque isso não é dito nas críticas de restaurantes? Porque o veganismo merece um head line "Dieta vegana cauda carência de nutrientes" sabendo que se comermos todo dia nos restaurantes tradicionais de São Paulo vamos ficar obesos, com colesterol alto, diabéticos? 
As escolhas de cada um vão além do óbvio e devem ser respeitadas de verdade, profundamente, especialmente por quem forma opinião nos nossos meios de comunicação.